Caos aéreo internacional: aeroportos europeus estão entre os piores
Elisabeth Rosenthal
Em Roma
Enquanto esperávamos sentados por uma hora para descer do avião no Aeroporto Leonardo da Vinci, na Itália, após um vôo de curta distância neste ano, o piloto se dirigiu aos passageiros pelo sistema de som. "Lamento. Todos sabem que este é um dos piores aeroportos da Europa".
Naquele momento, parecia difícil contestar: após um vôo de 50 minutos e a espera para desembarcar do avião, nós esperaríamos outra hora no carrossel para pegar nossa bagagem.
Mas, atualmente, há uma intensa concorrência pelo título de "pior aeroporto". Todo ano, o World Airport Awards, prêmio dado por uma firma de consultoria e pesquisa de viagem aérea chamada Skytrax, homenageia os melhores aeroportos. Apenas uns poucos na Europa ficaram entre os 10 mais deste ano: Munique é o 4º, Zurique é o 6º, o Schiphol, de Amsterdã, é o 7º e o Barajas, de Madri, é o 10º. Os três melhores estão na Ásia, enquanto nenhum aeroporto americano entrou na lista.
Apesar do número de passageiros ter disparado na última década, os aeroportos foram ampliados de forma improvisada, obrigando os passageiros a caminharem distâncias cada vez mais longas. Os trajetos são mais adequados para maratonistas, possíveis de ser percorridos por mortais em boa forma. Eu não sei ao certo como esperam que pessoas com crianças ou idosos e pessoas com deficiências os enfrentem.
Adicione a isto o fato dos procedimentos de tráfego aéreo e segurança terem se tornado mais onerosos e as experiências ruins em aeroportos superam em muito as boas. Logo, expor os piores aeroportos pode ser mais útil do que elogiar os melhores.
Piores
Com este espírito, e como viajante freqüente pela Europa, eu entrevistei outros viajantes freqüentes ao longo dos últimos dois meses - em aviões, nas filas de segurança e nos pontos de táxi - para chegar a uma pesquisa totalmente não científica sobre os piores da Europa.
E apesar de não ser uma especialista em estatística, eu acho que deve ser significativo o fato de todos terem dado a mesma reposta: o Heathrow de Londres é, claramente, o pior, citado por 100% dos entrevistados, como dizem os cientistas.
O Charles de Gaulle, nos arredores de Paris, ficou perto, em segundo. O Leonardo da Vinci, em Fiumicino, perto de Roma, e o aeroporto de Frankfurt ficaram com menções honrosas, ou devo dizer desonrosas.
"Heathrow é horrível", disse Howard Brennan, um empresário dos Estados Unidos. "As esperas são inacreditáveis. É congestionado demais, é preciso correr entre os portões. Se você estiver voando de primeira classe, eles às vezes são prestativos, mas mesmo assim apenas às vezes."
Jeffry Pappin, um consultor de negócios de Londres, disse ser "sempre cômico ver os avisos que informam que a caminhada até um portão de embarque em particular leva 25 minutos". Quanto aos confortos de Heathrow, disse Pappin, "só se descobre por meio de experiência e conhecimento secreto onde ficam escondidos os toaletes e lounges executivos".
Para ser justa, Londres, sendo um alvo de terrorismo, apresenta questões de segurança particularmente sérias. Todavia, as filas para controle de passaporte para cidadãos que não são da União Européia (UE) podem levar horas, mesmo fora dos horários de pico do dia. Eu recentemente tive o azar de chegar de Roma a Heathrow no fim da noite, por volta do mesmo horário que os jumbos vindos de Moscou; Almaty, Cazaquistão; Islamabad; Lagos e outros lugares distantes.
A fila pelo túnel abafado foi longa, a espera de 90 minutos e os funcionários do aeroporto britânico gritavam quase sem parar com aqueles na fila que deviam "dar um passo de lado" (para onde?) para dar passagem aos cidadãos da UE.
Outra queixa comum sobre Londres é a política de segurança britânica que limita rigidamente a bagagem de mão a apenas um item. Isto inclui laptops, bolsas, maletas, pastas de trabalho. Para entrar na área de segurança, é preciso colocar tudo dentro uma sacola só. O resultado é um congestionamento humano fora da área de revista com pessoas tentando espremer laptops em sacolas de mão ou bolsas em um porta-laptop.
A política parece particularmente sem sentido porque no segundo que você mostra que tudo pode ser colocado em uma mesma sacola e entra na área de segurança, você é importunado por avisos de que deve desempacotar tudo de novo, removendo laptops, carteiras e líquidos para inspeção. (Dica útil: Leve uma sacola dobrável na qual possa despejar seu computador, maleta ou bolsa.)
Um ponto positivo sobre Heathrow: ele conta com uma conexão incrivelmente eficiente, apesar de cara, para o centro de Londres, o trem Heathrow Express até a Estação Paddington, que leva 15 minutos e cuja passagem custa 15,50 libras, ou mais de US$ 28.
Se Heathrow é como estar em uma Longa Marcha, então o Charles de Gaulle em Paris, segundo outro passageiro freqüente, é "como estar em uma obra de Escher".
Os terminais, de A a F, parecem idênticos e amplamente espalhados. A sinalização é ruim. Pergunte a um funcionário do aeroporto onde fica seu portão e freqüentemente receberá uma orientação ruim. E então você descobrirá que está longe de onde precisava estar.
As filas de segurança para check-in e particularmente para conexões que estão saindo da UE são intermináveis, ineficientes e mal organizadas, então nem tente fazer conexões internacionais com um intervalo pequeno. Companhias aéreas como a Air France e Lufthansa ainda vendem vôos como se a segurança pós-11 de Setembro inexistisse. Elas permitem que os agentes de viagem vendam conexões em Paris e Frankfurt com menos de uma hora entre os vôos. Sem a menor chance!
Os vários hotéis ao redor do Charles de Gaulle contam com grande movimento de passageiros de conexões que perderam seus vôos. "Se você não conhece o aeroporto, é realmente difícil encontrar as coisas", disse Nada Kranjc, de Ptuj, Eslovênia. "E ninguém é gentil."
Sim: a pior coisa é que quando você perde seu vôo ou não consegue descobrir que filas levam ao seu vôo de conexão ou precisa de ajuda para interpretar o admirável mundo novo da segurança dos aeroportos, você fica à mercê de funcionários parisienses indiferentes e inamistoso de companhias aéreas e aeroporto.
No Reino Unido, os funcionários do aeroporto entregam sacos zip-lock transparentes nos quais os passageiros são obrigados a colocar líquidos e géis. No Charles de Gaulle a história é outra: na semana passada, uma colega comprou uma caixa lacrada de perfume caro que, como decidiram os funcionários de segurança, exigia um saco plástico transparente adicional. Mas em Paris eles precisam ser comprados -longe dali, por 10 euros (quase US$ 15), em uma loja chamada Relay.
Após correr até a Relay e voltar com o saco plástico, a colega foi informada que era o saco errado. Quando, prestes a perder seu vôo, ela explodiu em italiano, foi repreendida: "Você precisa falar francês aqui!". Foi uma experiência particularmente irritante.
Mencione os aeroporto de Frankfurt aos viajantes freqüentes entre a Europa e os Estados Unidos e você certamente ouvirá sobre o túnel "arco-íris", um túnel subterrâneo iluminado por luzes de néon de várias cores. Ele tem quilômetros de extensão e termina em escadarias montanhosas em ambas as direções. Há dois elevadores muito lentos como alternativas para as escadas. "O lugar é realmente irritante", disse Walter Konkin, um americano.
E quanto a Bruxelas, um aeroporto geralmente eficiente? Feliz que seu vôo chegou no horário? Ainda assim você se atrasará. "É como se quisessem disfarçar o fato da Bélgica ser um país pequeno obrigando você a caminhar por quilômetros e quilômetros para retirar sua bagagem", disse Pappin.
"Charme"
O Leonardo da Vinci não apareceu no topo da minha pesquisa de aeroportos ruins. Mas suspeito que seja por ser pequeno, não ser um ponto de conexão freqüente e porque as pessoas esperam que a Itália seja um pouco disfuncional.
"Eu não sei", disse Julia Pool, uma advogada que viaja com freqüência para a Europa. "Quando você espera em Londres é realmente irritante, mas quando você espera em Roma parece charmoso."
De forma objetiva, o Leonardo da Vinci é sujo. As designações dos portões mudam com o vento. Seu avião pousa no horário, mas então é preciso esperar pelo funcionário italiano do aeroporto para abrir a porta. (Hora do café expresso?).
Mas o que realmente se destaca são as filas incrivelmente longas de check-in para vôos para os Estados Unidos e a péssima forma como lidam com a bagagem. Nenhum romano que pode despacha sua bagagem aqui.
Certo sábado recente na minha viagem para Nova York, a fila de check-in para os vôos se estendia por toda a extensão do terminal (e saía pela porta) e tinha 10 pessoas de largura. Foram necessárias entre duas e três horas empurrando a bagagem centímetros à frente para chegar ao balcão. Pessoas com andadores e carregando crianças de colo que choravam não tinham preferência.
Ocasionalmente as pessoas de vôos que estavam para partir eram chamadas para a frente da fila. Mas isto só era de utilidade se você estivesse perto o bastante do começo da fila para ouvir o chamado.
Eu recebi duas explicações para o congestionamento: navios de cruzeiro chegam a Roma aos sábados, ocorrendo um "problema" não definido com o manuseio da bagagem. Realmente deve ser um grande problema, já que, quando a esteira do carrossel começou a rodar no aeroporto JFK de Nova York, nenhuma das malas que despachei tinha sido embarcada no avião.
Melhores
Na minha pesquisa, eu tentei ser positiva, sempre perguntando também sobre os melhores aeroportos. Munique, Zurique, Schipjol e Barajas foram elogiados, assim como alguns poucos aeroportos menores. Shannon, na Irlanda, recebeu aplausos porque, como disse Konkin, "pelo menos lá eles lhe servem uma cerveja Guinness quando você é obrigado a esperar".
Em muitos casos, há pouco o que fazer para se prevenir contra o estresse nos aeroportos, então talvez o melhor caminho seja recorrer a técnicas que aprendi na Itália: reduzir as expectativas, relaxar e desfrutar do momento, sempre que possível.
Em um recente vôo entre Roma e Londres, meu colega de assento, Gaetano Pace, me deu uma lista dos aeroportos que não gostava (Heathrow, Frankfurt, Charles de Gaulle) e daqueles que gostava (Barajas e Schiphol). Mas então acrescentou: "sabe de uma coisa, você é obrigado a passar tanto tempo nos aeroportos atualmente que o que importa para mim é se possuem boas lojas, um bom bar ou restaurante".
Tradução: George El Khouri Andolfato
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