domingo, 17 de junho de 2007

Escavações em locais errados

Escavações em locais errados

Raimundo Melo









Osvaldo: Levei taca (surra) umas duas horas e fiquei pendurado, com as mãos dormentes



Marabá – Outro local apontado pelos mateiros como cemitério clandestino é a área em frente à sede da Fazenda Bacaba, às margens da rodovia Transamazônica, no município de São Domingos do Araguaia. Na ocasião, o Exército instalou ali uma das suas principais bases de operação. Segundo os mateiros, no outro lado da estrada, em frente à entrada da fazenda, funcionava a pista de pouso, onde devem ter sido enterrados corpos de guerrilheiros. Até hoje, no pasto existem os alicerces dos alojamentos do Exército.

O ex-recruta Raimundo Melo serviu na base e lembra que no local ficaram presos, além dos guerrilheiros, os posseiros e suas famílias, suspeitos de colaborarem com a guerrilha. O agricultor e hoje pequeno comerciante Manoel Leal Lima, de 70 anos, aponta dois outros locais onde corpos de guerrilheiros também teriam sido enterrados. O primeiro é no Centro do Caçador, na vila conhecida como Oito Barracas, em uma estrada vicinal transversal à Transamazônica, no pasto do fazendeiro José Laurentino, às margens do igarapé Taurizinho.

Segundo o agricultor, lá foi enterrada a guerrilheira Fátima, cujo nome real era Helenira Resende de Souza Nazareth, morta em 1972. No terreno não há cruzes. Mas Manoel mostrou vestígios de uma cova. O agricultor Olímpio Pereira Silva, que mora ao lado da suposta sepultura, garante que ali ainda está o corpo da militante. Ele conta que, no dia do sepultamento, colocou folhas de palmeira sobre a cova. Em setembro do ano passado, uma missão do Ministério da Justiça foi ao local acompanhado do agricultor, para verificar as condições da cova

.Manoel, que é conhecido como Manu, foi um dos principais guias do Exército. E também de maior confiança. Ele ficou encarregado de transportar os corpos dos guerrilheiros José Carlos, codinome de André Grabois, desaparecido desde outubro de 1973; Zebão, nome fictício de João Gualberto Calatrone, desaparecido em 1973; e de Antônio Alfredo de Lima, morto em outubro do mesmo ano. “Eu enterrei os três guerrilheiros aqui, na mesma cova”, garante Manu, apontando para o terreno onde os revoltosos tinham construído uma casa. Neste local, a viúva de José Carlos, Criméia Almeida fez buscas há cerca de cinco anos, mas nada encontrou.

O mateiro afirma que as escavações foram feitas em local errado. Outra escavação, autorizada pelo então ministro Nilmário Miranda, da Secretaria dos Direitos Humanos, foi feita em Xambioá, mas nada também foi encontrado. O governo instituiu um banco de DNA de parentes dos 63 mortos e garante que está preparado para comprovar ou não a identidade dos guerrilheiros. Segundo fontes militares, as Forças Armadas realizaram uma última ação para apagar os vestígios dos combates, chamada de operação limpeza. Há suspeitas de que alguns corpos de chefes da guerrilha foram levados à Serra das Andorinhas, também na região, e incinerados. A Secretaria dos Direitos Humanos tinha programado, para o mês que vem, a busca final de ossadas. Mas adiou a iniciativa, sem explicações. (LR e ES)